Experiências das mulheres na pedagogia da alternância da Escola Família Agrícola de Santa Cruz do Sul - EFASC. (Vergütz, Cristina Luisa Bencke, 2017).
Foto: Acervo ObservaEduCampoVRP. Santa Cruz do Sul, Abril de 2022.
As mulheres e a pedagogia da alternância da Escola Família Agrícola de Santa Cruz do Sul são os pilares desta tese, junto a trama entre o trabalho e a educação, que tem como objetivo analisar as presenças e as ausências das experiências das mulheres nesta pedagogia enquanto processo formativo do qual elas produzem pedagogias das vozes e dos silêncios através dos trabalhos do cuidado, domésticos e da agricultura.
Afirmamos que as vozes e os silêncios das mulheres da pedagogia da alternância da EFASC constituem nós epistemológicos, históricos, pedagógicos e ontológicos que permitem pensar uma alternativa político pedagógica feminista, tendo o trabalho e a agroecologia como princípios educativos. Os conceitos de educação do campo e de educação popular tendem a atravessar a sua constituição e práxis. Optamos pela pesquisa participante feminista, entendendo que o saber é situado, temporal, aberto e entrelaçado em relações de poder. Afetadas pelo distanciamento social decorrente da pandemia do COVID-19, reorganizamos nossa metodologia de pesquisa e priorizamos ações de participação das mulheres da EFASC de forma virtual. Para tanto, além de registro em diário de campo, realizamos entrevistas semi estruturadas com vinte e uma mulheres e um questionário com questões abertas para trinta e três egressas. Estabelecemos diálogos permanentes, e após transcrições e sistematizações das informações, realizamos análise de conteúdo.
Compreendemos que a presença delas na pedagogia da alternância se dá pelos trabalhos e funções sociais que desempenham na e com a EFASC, ou seja, são monitoras, agricultoras, dirigentes, esposas, mães, avós, estudantes, egressas e militantes que, a partir da sua relação com o trabalho e a educação de si, e das demais pessoas envolvidas na sua existência, tramam experiências de classe, gênero, raça/etnia. Esse tripé estrutura a sociedade e, na pedagogia da alternância da EFASC, traduz a produção e a reprodução social e societal na cotidianidade de sua existência. Entendemos que ocorre um "enovelamento" na pedagogia da alternância que permitiu reconhecermos e analisarmos a presença e a ausência das experiências das mulheres através do "dizer a sua palavra" que, categorizadas em pedagogia das vozes e dos silêncios, se traduziram em lutas, resistências, estratégias, reflexões, reprodução e produção de conhecimento ou "saber da experiência feito". Ora ecoando os "cativeiros", histórica e culturalmente criados sobre o que é "ser mulher", ora buscando "ser mais" libertando-se, pela consciência de si e do mundo, das tramas da opressão-exploração-dominação. Pudemos identificar a possibilidade da materialização de uma pedagogia da alternância ecofeminista na EFASC tendo o trabalho e a agroecologia como princípio educativo na centralidade dos trabalhos de mantença da vida.
VERGUTZ, Cristina Luisa Bencke. Pedagogia das vozes e dos silêncios : experiências das mulheres na pedagogia da alternância da Escola Família Agrícola de Santa Cruz do Sul - EFASC. Tese (Doutorado em Educação), Universidade de Santa Cruz do Sul, p. 403, 2017. Disponível em: https://repositorio.unisc.br/jspui/handle/11624/3112.
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